Páginas

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Conversa Íntima


Em ritmo descompassado seu coração batia. Seus olhos estavam vidrados observando a chuva torrencial que caía do céu e molhava tudo que lá existia. Deitada em sua cama sentia seus poros suados, conseqüência do calor daquele dia. Por mais que ela estivesse e quisesse, a impressão de sua alma era que ela não estava sozinha.

***
Não acreditava na existência de outros seres, espíritos, fantasmas, ou qualquer outra nomeação que as diversas seitas e culturas expunham. Mesmo tendo essa descrença estabelecida, sentia que alguém, ou algo, estava ali junto dela.
Sentia no ar do seu quarto um clima estranho. Os raios que agora cortavam o céu pareciam procurar o ponto certo para finalizar sua viagem.

*
Por vezes ela passava por essas fases mais introspectivas. Não sabia bem ao certo o que lhe cativava a reflexão. Ficava por horas ou até mesmo dias relembrando nostalgicamente o que aconteceu em sua vida. Tinha saudade de coisas que não passaram de expectativas. Era assim que ela se sentia.
*
Com o passar dos minutos seu coração ficava mais calmo e lento. Permanecia ainda em seu íntimo a angústia e a cólera, e em certos momentos tinha a certeza de que parte daquele sentimento não era seu. Estaria alguém, em alguma parte da cidade ou até mesmo do mundo, sentindo exatamente a mesma coisa. Mas como explicar essa união de vibrações? Porque estaria ela condenada a sentir algo pertencente a uma pessoa que primordialmente nada se interligava a ela?
*
E quem nunca sentiu isso? A ânsia de que alguém, em algum lugar, por alguma razão, precisa de nós. Necessita do nosso afago, do nosso carinho, do nosso calor.
*
A chuva agora se tornara fraca e alguns pássaros ousavam sair de sua proteção para voarem livres pelo céu. O cheiro de terra molhada se instalava cada vez mais em todos os cômodos da casa.
Aquela garota antes tão descrente pensava agora em toda carga sentimental e emocional que recebera e criara. Por mais que agora ela conseguisse driblar aquela chuva melancólica, estava certa de que alguém chorava por ela. Alguém estava sentindo tudo o que vivenciara nos últimos dias e que aparentemente havia superado.

*
Decepções e alegrias cultivadas em sua essência. Uma lágrima percorreu os caminhos mais misteriosos de sua face e em um momento de êxtase seus lábios se separaram. Numa voz de desabafo exclamou: “Eu estou contigo, tudo vai acabar bem”.
Em exatidão um raio de sol adentrou o seu quarto iluminando todo o seu corpo. Lágrimas escorreram, agora não tão tímidas, e um sentimento de alívio lhe percorreu o corpo lhe fazendo cair em profundo sono.

*

Ela tinha, enfim, encontrado a pessoa que tanto dela precisava.

7 comentários:

  1. Me fez lembrar sobre alma gêmea, as vezes creio, as vezes não creio, é como se em algum lugar alguém tb estivesse procurando por mim...

    http://messnatural.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  2. As coisas que você escreveu me tocaram profundamente,tuas palavras possuem um misterio encantador,e as palavras parecem que são faladas enquando se lê.
    Adorei mesmo.
    Parabéns.

    ResponderExcluir
  3. e eu espero enfim encontrar a pessoa que tanto preciso!!!

    A-ME-I

    ResponderExcluir
  4. na verdade a pessoa que mais precisa de nós é aquela que enxergamos ao olharmos no espelho

    ResponderExcluir
  5. extremamente interessante

    ^^

    e absurdamente bem escrito como sempre, de uma forma que toca a alma como sempre teus textos tocam...

    ResponderExcluir

Solte o verbo!