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terça-feira, 23 de setembro de 2008

As eleições e suas sujeiras

Acredito que isto não seja notável apenas na minha cidade, mas sim em todos os cantos do Brasil. As eleições são importantes sim para a nossa sociedade, e por mais que certas coisas custem a mudar é o direito e dever da população ter o ato do voto.
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Apesar deste suposto ponto positivo das eleições, percebo muitos pontos críticos e irritantes nas pré-eleições. Constato no mínimo quatro tipos diferentes de poluições causadas por esse período:
1º: A poluição sonora. Você certamente já notou que a cada 5 minutos passa um carro de som ensurdecedor com o 'hit de sucesso' de tal candidato em sua rua. Alguns instantes mais tarde, quando aquela música já entrou na mente - e permanece lá por um considerável período de tempo (e esta é a intenção dos candidatos, nos enlouquecer) -, passa outro carro sonoro de outro candidato com seu hit. O processo de loucura é o mesmo e é frequente durante todo o dia. Não tem hora, pode ser às 8 da manhã, ao meio dia, no final da tarde, enfim, não tem escapatória.
2º: A poluição mental. Essa é em parte uma consequência da primeira. Acredito que a maioria permanece com a música do candidato ciclano na cabeça durante boa parte do seu dia. Considero isso como uma poluição mental, pois ninguém merece ficar com uma música desse tipo na cabeça.
Faz parte desse tópico a poluição de mentiras que nos são ditas. Me desculpem, mas eu não consigo acreditar nos discursos políticos dos candidatos. Todos dizem basicamente a mesma coisa, e na realidade nos últimos tempos estão fazendo a mesma coisa: falam e falam - apenas isso.
3º A poluição visual. Depois de um dia cansativo ou outro qualquer, você resolve dar uma caminhada pela cidade. Do seu lado direito você avista vários banners do candidato fulano. Do seu lado esquerdo você vê outro banner com a foto cheia de photoshop de outro candidato, e assim por diante. Em época de eleição quase todas as casas têm um cartaz pendurado, ou uma bandeira de partido tremulando na sacada. Relaxante não?
4º: A poluição ambiental. Consequência do tópico terceiro. Você já percebeu a quantidade de papel gasto em uma campanha política? Em cada esquina existem pessoas entregando as ditas 'colinhas'. Lógico que nenhuma é de papel reciclado, todas são coloridas e impressas em papéis brilhantes. Você anda mais um pouco e lá vem outras pessoas te entregarem as 'colinhas', mas agora é de outro candidato. Experimente dizer que não quer levar o papelzinho para casa. Sem contar que muitas pessoas pegam esses papéis, dão alguns passos e jogam o material no meio da calçada. Observem uma vez o que são as ruas em volta do prédio onde você irá votar no dia da eleição, é um mar de papel.
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Devem existir outros tipos de poluição que as eleições provocam, mas somente essas me vieram com clareza. Lógico que precisamos ter campanhas eleitorais, mas um pouco de bom senso e respeito às pessoas e ao meio ambiente não seria um absurdo. Tantos políticos falam em mudanças... Mas será que esses ditos inovadores possuem esse poder? E se possuem, porque raios fazem o que todos os candidatos sempre fazem nas campanhas eleitorais?
Não irão conquistar o meu voto entregando papéis em cada esquina. Não irão conquistar o meu voto possuindo um carro com auto-falantes mais potentes que o adversário. Afinal, se é pra fazer barulho e bagunça, deixa que eu mesma os faço.

sábado, 20 de setembro de 2008

Monotonia

As luzes foscas da cidade por anos premeditavam o que seria aquela noite em sua vida. Sentia seus pés molhados e suas botas estavam cheias de lama. Luzes fortes e vibrantes surgiam e tomavam conta do ambiente. Já não conseguia entender se era tudo fruto de sua imaginação ou não. Seus olhos ardiam.

Dentro de sua mente muitas idéias surgiam. Idéias sem nexo, pensamentos, vontades, desejos, medos. Ela não sabia mais onde estava, o que fazia e muito menos qual era a sua essência de vida. Quem eram aquelas pessoas em sua volta? Quem era aquele homem loiro e misterioso que a observava?

Em cada piscar de olhos o ambiente parecia se modificar. Em cada respiração ela se tornava outra pessoa. O que era aquilo que ela sentia no peito? Que movimento de batida era aquele? O que ela fazia ali?

Por um momento pensou em correr para algum local isolado e escuro. Queria simplesmente fechar os olhos e ser levada pelo vento que embalava os seus cabelos negros. Tentou caminhar, não conseguiu. Algo segurava os seus pés e sua voz se tornara um inculto silencio.

Suas mãos estavam geladas. Essa prisão não afetava suas emoções e sentimentos, ela se mantinha calma, parecia que ela estava ali há muito tempo e sabia o que aconteceria. Era questão de tempo, tudo não passaria de uma alucinação.

Seus olhos ardiam cada vez mais e seus pés estavam dormentes. O vento passou a se intensificar assim como as luzes coloridas em sua volta. O que ela sentia era o arrepio de seu corpo.

As pessoas que estavam em sua volta começaram a sumir. O tempo passou e somente ela permaneceu, parada e sem reação. A vida dela sempre fora assim, corria entre os seus dedos e ela apenas observava. Os problemas e felicidades surgiam e ela os ignorava.

Assim ela permaneceu, parada no meio da lama, sentindo o frio lhe cortar a pele. Tornara-se mera coadjuvante de sua própria vida.

domingo, 14 de setembro de 2008

O angustiante valor dado as Paraolimpíadas

Este ano está sendo de grande importância para o esporte mundial, todo ano de Olimpíadas é assim. Milhares de atletas se reúnem para mostrar o seu máximo e por consequência ganhar a tão sonhada medalha. Milhões de pessoas acompanham esse acontecimento, torcendo, secando, se emocionando. Essa união é uma marca latente do esporte, e ele é o que é por razão disto.

Nas Olimpíadas de Pequim tínhamos a expectativa de acompanhar vários atletas brasileiros vencendo e mostrando ao resto do mundo o poder que o Brasil tem. Todos nós esperávamos mais do Brasil. Apesar dos pesares conquistamos o total de 15 medalhas: 3 de ouro, 4 de prata e 8 de bronze.

Em todos os locais eram encontradas notícias, entrevistas, reportagens sobre os Jogos Olímpicos de Pequim. A maioria dos brasileiros sabia tudo que estava acontecendo do outro lado do mundo e muitos sentavam na frente da televisão para torcer pelos nossos representantes.

Mas este ano não está sendo grandioso no cenário esportivo somente por causa das Olimpíadas, mas também pelas Paraolimpíadas. E nessa questão que me surge a angústia e a revolta em meu peito e em minha mente: porque essa diferença extrema na forma em que tratamos as Olimpíadas e as Paraolimpíadas? Porque não temos olhos e tempo para torcer e acompanhar esse tão heróico evento?

Alguns justificam não acompanhar porque a mídia trata pouco sobre esse assunto. Mesmo sendo uma transmissão visivelmente diferente da que tivemos nos Jogos Olímpicos temos canais que transmitem as provas. E se houvesse mais interesse dos brasileiros teríamos muito mais conteúdo disponível.

Ao final das Olimpíadas a maioria criticava os que não conseguiram dar conta do que se era esperado. Nesse ponto eu concordo, poderíamos sim ter conquistado mais vitórias. Os motivos por nosso aproveitamento ter sido um quanto baixo são vários relatados por críticos e pelo senso comum. Mas se a questão é MEDALHAS, porque não estamos vibrando e tendo orgulho dos nossos atletas da Paraolimpíadas?

Nossos guerreiros atletas já somam 35 medalhas: 12 de ouro, 9 de prata e 14 de bronze. Aos que culpam a atuação brasileira nas Olimpíadas pela falta de investimento, o que falar desses que são esquecidos? Aos que falam que a culpa é que a torcida não torce efusivamente, o que falar desses atletas? Aos que falam em dificuldades de treinamento, o que falar nesse caso? Não digo que esses motivos apontados sejam falhos, mas nem tudo se prende a isso.

Esses atletas são verdadeiros heróis, que se superam a cada novo dia, e me pergunto, cadê o valor? Acredito que está na hora de NÓS - brasileiros, sociedade, população mundial - revermos os nossos conceitos.

Sei que dói ver certas provas e certas dificuldades que eles passam. Dói sabe porque? Porque nós, com nosso corpo perfeito, reclamamos muito da vida, reclamamos em ter que caminhar e de tantas outras coisas, sendo que nesse meio tempo, essas pessoas com deficiência conquistam sonhos. Não acredito que de uma hora para outra vamos passar a acompanhar as Paraolimpíadas, mas é hora de começarmos a analisar o porque de não dar atenção a tudo isso. Eles merecem toda a festa e todo o apoio do povo brasileiro, não somente por estarem conquistando medalhas, mas por estarem lá nos representando.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Seleção Brasileira X Internacional

Foi clara a semelhança entre o futebol apresentado quarta-feira (10/09) pela Seleção Brasileira e o futebol quase que repetitivo do Sport Club Internacional. Digo mais, a campanha da Seleção é análoga a do maior clube do sul do país.

A Seleção possui grandes jogadores, por mais que a presença de alguns seja contestada. No elenco também se tem o Dunga, uma grande figura da história do futebol do Brasil, mas que não está conseguindo formar um real time. Contudo, juntando esses dois fatores era de esperar grandes partidas e um ótimo posicionamento nas competições. A honrosa camisa amarela demanda mais qualidade, isso é fato.

A situação do Internacional é nem um pouco diferente. No papel o clube possui um conjunto vencedor, porém em campo isso não se confirma. O técnico Tite pode ser considerado bom ou ruim, por acertar em alguns pontos e errar em outros. Está se jogando um futebol mesquinho por se tratar da camisa alvi-rubra que está sendo vestida.

O Brasil fez um bom jogo no domingo (07/09) contra o Chile quando venceu, convincentemente, por 3x0. A mídia já publicava matérias confiantes, afirmando que o jogo contra ao Bolívia seria barbada, que certamente assistiríamos uma histórica goleada - desprezo esse tipo de posicionamento midiático -. Deu no que deu. Esta realidade vejo se passar ao redor do meu Internacional, que, assim como a Seleção, ainda não conseguiu encontrar a regularidade em campo.

Nossa Seleção foi considerada uma das favoritas para o ouro em Pequim. Foi parada nas semifinais quando levou 3 gols da Argentina, que veio a ser a campeã. O Inter, por sua vez, era favorito a tudo neste ano. Na Copa do Brasil tudo indicava que a torcida colorada teria mais um título para comemorar. O sonho acabou contra o Sport que, após fazer 3x1 no Inter pela quarta de final, se classificou e por fim se tornou campeão da Copa do Brasil 2008.

O povo brasileiro e a imprensa não possuem mais total confiança pelo time do Brasil, isso também vale para o time colorado. Como torcedora dos dois tenho este mesmo sentimento. O que salva esses dois grandes times são alguns jogadores que não conseguem – e espero que nunca consigam -, se conformar com essa situação. Na Seleção o gigante Lúcio, zagueiro, velho conhecido da torcida colorada, mostra dedicação a cada jogo, passando até mesmo a jogar no ataque. No Internacional o guerreiro – e já eterno – Pablo Horacio Guiñazu, volante, por muitas vezes chamou a responsabilidade para si e também tentou avançar à procura do gol.

Lógico que existem diferenças, mas assistindo o jogo de quarta-feira pude pensar “Já vi esse filme antes”, ainda mais quando a solução e a esperança do time foi toda depositada em cima de um jogador, o atacante Nilmar.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Nossa sociedade analfabeta

Um dos problemas do nosso país é a falta de alfabetização. Afirmo isso, pois uma grande parte dos considerados "alfabetizados" sabem apenas desenhar o nome próprio. Estes no máximo conseguem ler um texto, mas sem entender e decodificar nada. Não é o bastante apenas saber ler e escrever, é preciso conseguir refletir sobre o que foi lido.

90% dos jovens do Brasil sabem dos recursos contraceptivos existentes para evitar uma gravidez indesejada. 75% desses mesmos jovens que possuem esse conhecimento NÃO usam nenhum método ao ter um relacionamento sexual. Como explicar isso? A meu ver, o problema é o que citei no primeiro parágrafo. Nós, mesmo tendo a informação, optamos pelo errado.

Em depoimento para a reportagem "A gravidez na adolescência", feita pelo programa 'Jornal Hoje', da Rede Globo de Comunicação, nesta quinta-feira (04/09), uma jovem arrolou naturalmente que sabe da importância do uso da camisinha, mas que simplesmente esquece de usar. COMO ESQUECER? Usar a camisinha não é uma ação para os outros, é para nós mesmos! Nós estaremos nos preservando das conseqüências que o sexo pode proporcionar! Repito: COMO ESQUECER?

A cada dia que passa vemos mais e mais jovens grávidas. 20% das crianças que nascem hoje em dia no Brasil são filhos de mães adolescentes. Adolescentes (ou pré-adolescentes? Ou, ainda, crianças?), de 10 a 14 anos sendo mães, e não apenas de um filho, mas muitas já grávidas do segundo. Terá uma criança dessa idade cabeça, responsabilidade e estrutura para tanto?

As bonecas dadas para as crianças brincarem de mamãe estão tomando proporções reais, e isso é assustador. Crianças-mães, que acabam largando o estudo, deixam de lado a infância e num pulo fulminante passam a ser adultas. O pior de tudo é que essas mães, em sua grande maioria, não possuem renda para sustentar um bebê. Reforço: o problema não está na divulgação da importância do uso da camisinha nas localidades mais pobres, muito menos na adquirição dessa proteção, pois os Postos de Saúde devem fornecer contraceptivos gratuitamente.

A linha de raciocínio seguida foi a que a jovem grávida viria a assumir e ter o filho, mas infelizmente nem todas fazem essa escolha e partem em busca do aborto. Essa medida não é legalizada no Brasil - apenas em casos extremos de abuso sexual ou risco de vida da mãe -, por isso quem recorre ao aborto, ou acaba se arriscando com receitas caseiras, ou com os recursos clandestinos. Entre 1993 e 1995, 50 MIL jovens foram parar nos hospitais públicos devido a complicações no aborto clandestino, sem contar que cerca de 20% das mamãezinhas acabam morrendo junto com a criança indefesa.

Tenho em minha mente a idéia concreta contra o aborto, acredito que há vida desde a união do óvulo com o espermatozóide, e o aborto – esteja o feto com dias ou meses - é um assassínio. Condeno veementemente quando a criança foi gerada por irresponsabilidade e a "solução" encontrada é a abortiva. O que se planta se colhe. Fez sexo sem camisinha? Assuma o filho. (Não irei me aprofundar nesse assunto, apenas um comentário rápido e breve sobre).

Outros números alarmantes são os que mostram como a tendência suicida está crescendo entre as jovens grávidas. Em pesquisa feita de 120 jovens entrevistadas, 16% confessaram terem pensado em suicídio devido à gravidez indesejada. Antes a porcentagem era de 13%.

Outro ponto preocupante é o das doenças sexualmente transmissíveis que estão se alastrando rapidamente pela nossa sociedade, pela falta do uso da camisinha, a freqüente troca de parceiros e o uso de drogas injetáveis.
Essas mãezinhas precisam do apoio dos pais, da sociedade, de todos. Não adianta largar de mão pessoas que vivem a realidade de serem mães e pais adolescentes, terem doenças, etc.

É necessário reverter esse quadro de calamidade. Devemos nos preocupar em trabalhar a mente desses jovens, das nossas crianças e também dos adultos. Não é o suficiente apenas saber, ter conhecimento excessivo; é preciso usar isso no dia-a-dia, nas escolhas, nos conselhos. Não se pode mais tolerar que as pessoas não consigam interpretar as coisas, e não estou falando dos 'pobres coitados' - que adoramos falar mal, dizer que lá é que está o problema do nosso país e de nossa cultura -, estou falando de todos nós, letrados, que, por estarem tendo acesso à internet, possuem conhecimento e oportunidade. Muitos de nós conhecemos - ou até mesmo somos – analfabetos que não conseguem entender, interpretar e formar idéias próprias. Simplesmente decifram códigos e desenham coisas que lhe disseram ser palavras.
Fazemos lindos discursos do que é certo do que é errado, adoramos apontar o dedo na face dos que fizeram uma má escolha, mas em dado momento fazemos o mesmo, ou até pior. De nada mais adianta falar, é preciso agir.

Apoio qualquer tipo de projeto para alfabetizar os que ainda não sabem, mas não devemos mais aceitar e idealizar que para sermos inteligentes basta saber ler e escrever. Precisamos pensar, refletir e fazer. Só assim o nosso país vai pra frente - nesse aspecto e em tantos outros - porque palavras solitárias ditas, meus caros, não ão de resolver nada.